Wednesday, May 9, 2012

O inferno astral de Goiás

Senador Demóstenes Torres tá mais enrolado do que carretel
Goiás é um dos estados mais simpáticos que já conheci. Na real, dizer que conheço Goiás é muita pretensão. Passei uma semana em Goiânia, há dois anos e é só o que eu conheço de lá. Mesmo assim, continuo achando um dos lugares mais legais em que já estive.


Goiânia é dessas capitais com cara de cidade do interior. Não é pra menos. As pessoas lá gostam de ser caipiras, têm um certo orgulho disso e o expõe por meio do sotaque arrastado e cheio de erres e também na preferência pelas caminhonetes e a música sertaneja. Ah, e bebem direitinho, também. Resumindo: Goiânia é pura curtição.


Naite em Goiânia: várias gatas e bares de primeiríssima qualidade


Dificilmente ouvimos falar muito de Goiás no noticiário nacional. Nas últimas semanas, porém, é o que mais acontece. De repente, o Brasil descobriu Goiás e viu que lá existe mais do que somente gado, pequi e (MUITA) mulher bonita. De uma hora pra outra, descobrimos que parte de Goiás uma rede de crimes monstruosa, que envolve desde o maior bicheiro local até políticos dos mais altos escalões. Envolve ainda delegados e agentes da polícia federal, grandes empresários e até a imprensa. A coisa mais parecida com o que se vê nos filmes sobre máfia, como em "O Poderoso Chefão" e "Os Intocáveis", a ser descoberta no Brasil, vejam só, vem de Goiás, esse estado tão negligenciado por todos nós.

Carlinhos "Corleone" Cachoeira, o  capo di tutti capi da Chicago brasileira


Estar fora do foco por tanto tempo talvez tenha colaborado pra que um cara como o Cachoeira pudesse construir uma organização com ramificações tão poderosas. Ali, na calada, sem ser incomodado, foi montando uma rede de influência incrível, a qual manipulava da forma como bem entendia, confundindo a polícia, aprovando projetos de seu interesse na Câmara e no Senado e até mesmo transformando fofoca em capa de revistas importantes e crises nos mais altos escalões de Brasília. E tudo isso enquanto ainda se ocupava de lavar dinheiro, fraudar licitações, bancar e coordenar campanhas eleitorais, ser um dos maiores contraventores do país e torcer pro Botafogo. Não deve ser fácil.

Até entrar no olho do furacão, Goiás era só tranqüilidade e sossego


É claro que Goiás não se orgulha da forma como passou a ser presença diária no noticiário. Tenho certeza de que o pessoal de lá preferia ficar como estava: quietinho no seu canto e trabalhando honestamente, que é o que a imensa maioria faz. Só que as coisas nem sempre são como a gente quer. De tempos em tempos, entramos numa fase mais complicada, o que muitos acreditam ser um inferno astral. Nesse período, dá tudo errado, mesmo. Me parece que é isso que acontece com Goiás, agora.


Quando imaginávamos já termos visto tudo, 7 pessoas são degoladas em uma fezenda no interior do estado. Não bastasse isso, suspeitos do crime são detidos no funeral das vítimas. Quando finalmente se chega ao autor da chacina, ele morre junto com 7 policiais num acidente de helicóptero.


Aparecido de Souza Alves, principal suspeito da chacina de Doverlândia, morto com mais 7 policias na queda do helicóptero
Sério, quais são as chances de algo assim acontecer? Quantas vezes já se viu ou ouviu falar de algo parecido com isso? Eu, nunca. Definitivamente, a fase de Goiás não é das melhores.


Mas não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, não é o que dizem? Logo logo essa fase passa e os goianos vão poder viver de novo do jeito que mais gostam. Até lá, o negócio é ter paciência. Uma reza forte, uma boa oração ou mesmo um banho de sal grosso também são bastante recomendáveis nessas horas. Não custa nada dar uma apeladinha pro oculto. Só não pode é apelar pra despacho em cachoeira. Pra isso, sim, o momento não é nada apropriado.

Thursday, May 3, 2012

Mobilização no Facebook para recuperar a obra de Laerte

O cartunista Laerte Coutinho, criador de personagens clássicos do quadrinho brasileiro, como os Piratas do Tietê e o super-herói Overman, teve a maior parte de seu acervo roubada na madrugada da última terça-feira, 01. Segundo noticiado pelo site Terra, foram levados dois computadores e um HD externo contendo a maior parte da obra do autor produzida nos últimos 12 anos.

A notícia causou comoção nas redes sociais, em especial o Facebook, que a partir de uma campanha criada pela Liga do Gibi, viu a imagem ao lado ser compartilhada mais de 5 mil vezes na esperança de que o conteúdo dos discos rígidos ainda possa ser recuperado.

A campanha pede diretamente aos receptadores de material roubado que verifiquem o conteúdo de micros e HDs antes de formatar, sob o apelo de que "a obra do cartunista Laerte não tem preço pra você, mas pra nós tem um enorme valor."

Laerte, que nos últimos meses anda aparecendo também nas páginas de comportamento dos jornais por conta de seu novo visual assumidamente crossdresser, afirmou em entrevista ao jornal O Globo ter gostado da campanha e ainda manter uma vaga esperança de reencontrar seu material roubado.

O cartunista ainda aproveitou para dizer que "gostaria que as pessoas se ligassem mais em fatos como o que aconteceu na Praça da Sé no dia 2, em que a polícia investiu contra os sem-teto que estavam fazendo uma manifestação. Isso também é um assalto, é um roubo, é uma expropriação e essa gente não tem quem os defenda."

Wednesday, May 2, 2012

Alto custo de vida no Rio já interfere até na pegação

Que as cariocas, principalmente as da zona sul, sempre tiveram fama de marrentas e extremamente exigentes, todos nós já sabemos. Acontece que a coisa piorou muito de uns tempos pra cá. Não é só a cidade do Rio de Janeiro que fica cada dia menos acessível ao cidadão comum, mas também as suas mulheres. A impressão que se tem, é a de que não há a menor chance de se dar bem com uma delas se você não for uma celebridade global, um jogador de futebol ou filho do Eike de Almeida Batista. O que antes poderia servir como um diferencial, um "plus" no jogo da conquista, como um carrão importado ou um corpo sarado, agora é ítem obrigatório. E não pára por aí.

Não acredito que a chegada das UPPs às favelas seja responsável também por esse fenômeno. Já chega ter que aturar essa desculpa quando o assunto é a valorização surreal dos imóveis nas regiões em que elas foram instaladas. Agora, que o aumento do nível de exigência das meninas está, sim, acompanhando o ritmo em que cresce o custo de vida local, isso está. A cidade caminha a passos largos pra se transformar numa Beverly Hills dos trópicos.

É preciso deixar claro que não vai aqui nenhuma crítica. Tampouco quero generalizar, rotular ou qualquer coisa que o valha. Ajo apenas como observador. Sou nascido e criado do interior fluminense, morei um tempo no subúrbio e outra grande parte da vida na zona sul cariocas. Faz dois anos que estou em São Paulo. Por conta do trabalho, viajo bastante. Tudo isso me ajuda a perceber um pouco melhor essas mudanças sempre que venho à cidade.

Mesmo que inadvertidamente, muitas mulheres aqui têm valorizado demais o passe diante de uma nova - e cara - realidade e a tendência é que a coisa ainda se agrave bastante. Nada mais justo do que elas acompanharem esse ritmo. Afinal de contas, homem também não gosta de mulher caída. Só pega se não tiver outra opção. Portanto, fazem elas muito bem em não dar mole pra pé-rapado. Ficar e, principalmente, manter-se bonita e gostosona não custa pouco. Não faz o menor sentido a garota investir alto no "look" pra terminar a noite dentro de uma van e comendo X-tudo na esquina.

É bom que os caras, cariocas ou não, se liguem rápido nisso. Não é só mais uma modinha. Assim como o Rio não vai deixar de ser um lugar caro, a mulherada daqui também não vai facilitar. O jeito é fazer como o sargento Rocha e lembrar que quem quer rir, tem que fazer rir.



Thursday, April 19, 2012

O Adeus de Levon Helm

Morreu nesta quinta-feira, 19, Levon Helm, baterista e vocalista da banda que acompanhou Bob Dylan em sua polêmica fase elétrica, e que fez uma respeitável carreira por conta própria sob o nada tímido nome de The Band.

Levon Helm lutava contra um câncer na garganta há anos, e apesar de um breve período de remissão quando pôde voltar a se apresentar ao lado de seus amigos Midnight Ramblers e lançar um par de marcantes álbuns ("Dirt Farmer" e "Electric Dirt"), o cantor faleceu no hospital Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, cercado por família e amigos.

Nascido em 26 de maio de 1940, no Arkansas, Levon Helm era o único americano em uma banda formada por canadenses, ex-integrantes de outra banda de apoio importante na cena rock local: os The Hawks, que acompanhavam Ronnie Hawkins - o próprio, outro nativo do Arkansas, apesar de ter estabelecido sua carreira mais ao norte, em Toronto.

Com a The Band, Levon Helm foi figura crucial na formação do som da banda, através de seu estilo peculiar de cantar e tocar bateria, e seus talentos de multiinstrumentista - que o registram ainda como gaitista, baixista, bandolinista e tocador de banjo. Os dois primeiros discos da banda, "Music from Big Pink" (1968) e "The Band" (1969) tornaram-se ícones no encontro do rock psicodélico com os sons mais tradicionais da música norte-americana como o Folk e a música Country.

Levon Helm também acompanhou Ringo Starr na formação original de sua All-Starr Band, e atuou em mais de uma dezena de filmes após a separação da The Band. O músico deixa mulher, filha e neto.

 Assista abaixo alguns dos grandes momentos na carreira de Levon Helm.

"The Night They Drove Old Dixie Down", ao vivo no filme "The Last Waltz", o concerto de despedida da The Band sob a direção de Martin Scorsese

"Only Halfway Home", um curta-metragem inspirado e contendo músicas do álbum "Dirt Farmer", de Levon Helm


Com a All-Starr Band em uma performance de "The Weight", maior sucesso da The Band

Tuesday, April 10, 2012

É impossível não amar "Avenida Brasil"

Adoro novelas. Não curto as das 18h e 19h, mas não perco nenhuma das 21h. Houve um tempo em que achava tudo um grande pé no saco. Na época em que era casado, ficava p... da vida com minha mulher, que teimava em querer assisti-las no nosso quarto, na TV em que eu via meu futebol, meus seriados e jogava vídeo-game. Nunca permitia que ela sequer encostasse no controle e mandava-a sempre para sala, não sem antes lembrá-la que eu tinha comprado o aparelho e que por isso ele era meu, só meu. Nada que ela alegasse em seu favor fazia a menor diferença. Naquela TV, novelas eram terminantemente proibidas.

Foram dias em que andei meio amargo, sem muita paciência para um monte de coisas de que antes gostava pacas e que hoje, graças a Deus, voltei a gostar. Sinceramente, não sei o que me fazia ser aquele mala. Ainda bem que essa fase passou e cá estou eu, de volta a minha doce vida de noveleiro e admirador de outros tantos programas igualmente excepcionais, tais como Amaury Jr., "Superpop", e o do Lopes, o homem do vinho. Sem falar nos do eterno rei dos nossos domingos, o incomparável, genial e grisalho Sílvio Santos.

Mas voltemos a falar das novelas. Aliás, gostaria de falar de duas, especificamente: a que terminou há poucas semanas ("Fina Estampa") e a que entrou em seu lugar ("Avenida Brasil"). A primeira alcançou índices altíssimos de audiência; a segunda, entretanto, é que vem despertando a atenção e também a curiosidade de muita gente, inclusive - e principalmente - dos que afirmam detestar novelas. E não é difícil compreender a razão.

"Fina Estampa", do ótimo Aguinaldo Silva, autor competente e hábil, até que era divertida. Com o desenrolar da trama, porém, ficou nítido que se sustentava muito sobre duas personagens: a vilã Tereza Cristina, vivida por Christiane Torloni, e seu "slave" Crodoaldo Valério, brilhantemente interpretado pelo Marcelo Serrado. As cenas entre os dois eram mesmo excelentes e não seria nenhum absurdo se a Globo resolvesse criar uma série para eles - acho até que deveria. Acontece que Crô cresceu ainda mais e se tornou A grande personagem. Serrado mandava tão bem, mas tão bem, que qualquer um que contracenava com ele crescia assustadoramente, por menos relevante que fosse o papel. Com isso, embora não tivesse praticamente nenhuma importância nas viradas que a novela tinha que dar, sua participação foi ficando cada vez maior. Era fantástico, mas não amarrava as histórias.


Aguinaldo é um desses autores que dançam conforme a música. Se o Ibope sobe quando Crô aparece, então tome mais Crô. Com isso, um monte de questões e mistérios que apareceram lá no começo foram sendo resolvidos "nas coxas" e várias pontas ficaram soltas, como, por exemplo, o casamento atribulado de Celeste (Dira Paes) e Baltazar (Alexandre Nero), que ninguém sabe no que deu; ou o enigmático amante do Crô, cuja não revelação foi justificada(?) com uma citação do próprio à caixa de Perpétua - ela guardava algo misterioso nessa caixa, que permaneceu irrevelado até o último capítulo -, personagem de Joana Fomm em Tieta, também do Aguinaldo; ou ainda o patético naufrágio de Tereza Cristina e Pereirinha (Zé Mayer), o qual, ao que parece, era o Netuno em pessoa. Aquela, aliás, foi a cereja no bolo do final de novela mais sem noção que me lembro de ter visto em toda a vida. A impressão que deu, foi a de que Aguinaldão se perdeu por completo na sua ânsia de dar ao público o que ele achava que o público queria e chutou o balde com vontade na reta final. Definitivamente, não terminou bem.

Saímos, então, de uma novela meio sem pé nem cabeça e entramos noutra que é uma verdadeira lição de como se deve contar uma boa história. João Emanuel Carneiro, diferentemente do Aguinaldo, parece ter a trama toda na mão e saber exatamente o que fazer com ela até o seu fim. É tão bem feita, que em duas semanas não houve sequer um capítulo mais ou menos. Todos variaram entre o muito bom e o excelente. E a julgar pelo que se viu no de sábado, a terceira semana promete ser tão intensa quanto foram as duas anteriores.

"Avenida Brasil" é um show de direção, roteiro, fotografia, trilha - uma novela que reúne "Kuduro", Aviões do Forró, Zeca, Dylan e ainda redescobre Zé Augusto tem mesmo pouquíssimas chances de não vingar - e conta ainda com atuações soberbas de praticamente todos os atores. Se for assim até o final, tem tudo para ser uma das maiores de todos os tempos e a melhor dos últimos 15 anos, pelo menos. Ela tem humor, suspense, drama e pieguice na medida exata. Até aqui, é uma novela completa, dessas que fazem a gente ficar ansioso pelo capítulo seguinte, marcar compromissos em função do seu horário e até sonhar que se está nela. Comigo já aconteceu. Foi naquele dia em que Ritinha (Mel Maia) foi deixada no lixão pelo Max (Marcelo Novaes). Acordei bastante tenso. Tenho uma filha quase da mesma idade e acho que isso influenciou um bocado. Enfim, é um novelaço, que te prende e não permite que se fique indiferente a ela. Fazia tempo que não aparecia algo assim na teledramaturgia nacional.

Quando este texto for publicado, já saberemos se Rita/Nina (Débora Falabella) finalmente reencontrou-se com Batata/Jorginho (Cauã Reymond), se Suelen (Ísis Valverde) terá usado outra daquelas suas roupas que enlouquecem até defunto e se Cadinho (Alexandre Borges) continua dando conta de suas três mulheres. Mas mesmo que tudo isso já tenha acontecido, a gente pode ficar sossegado, porque a trama de João Emanuel Carneiro não vai deixar a peteca cair. Do jeito que a coisa anda, tenho certeza de que "Avenida Brasil" ainda reserva surpresas que vão deixar todos de queixo no chão. É só acompanhar, conferir e se deliciar